A Liga Acadêmica de Oftalmologia Zarns (LAOZ) , representada pelas alunas Carolina Ávila e Joseli Mota, apresentou durante o 69° Congresso Brasileiro de Oftalmologia (CBO), na última sexta (29/08), o projeto “Olhos de Luz - Atividade Física e a Influência na Qualidade de Vida e Prevenção de Cegueira em Diabéticos de Comunidade Quilombolas”.
Neste contexto, o estudo tem como objetivo principal investigar a influência da atividade física na qualidade de vida e na prevenção da cegueira por retinopatia diabética em indivíduos de meia-idade e idosos da comunidade quilombola Córrego do Inhambú, abrangendo os municípios de Itumbiara e Cachoeira Dourada, Goiás. Além disso, busca analisar a prevalência de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e hipertensão arterial sistêmica (HAS), bem como suas implicações na saúde ocular, incluindo retinopatia diabética, catarata e glaucoma.
O projeto, premiado em primeiro lugar na 2ª edição do concurso nacional “Olhos para o Futuro”, realizado pela Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Oftalmologia (ABLAO), destacou-se entre 18 trabalhos submetidos de 11 estados brasileiros e ainda rendeu menção honrosa pelo engajamento estudantil.
Durante a sessão científica da ABLAO no CBO, médicos oftalmologistas renomados elogiaram publicamente o impacto social e científico do trabalho.
O Olhos de Luz surgiu em 2023, quando Carolina submeteu uma proposta de iniciação científica voltada à população atendida pelo SUS. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética, mas havia um obstáculo: a execução dependia de um retinógrafo digital, equipamento avaliado em cerca de R$ 30 mil, cuja aquisição à época era considerada inviável.
A virada aconteceu em 2024, quando a ABLAO, em parceria com o CBO e a Phelcom, lançou o concurso “Olhos para o Futuro”, oferecendo como premiação o retinógrafo digital e apoio para iniciativas que atendessem populações vulneráveis. Era a oportunidade perfeita. “Naquele momento, pensei: por que não? Com apoio dos professores e da faculdade, alterei o projeto para atender uma comunidade quilombola que começava em Itumbiara e começamos a montar os fluxos de trabalho”, lembra Carolina.
Foram três meses de intenso trabalho, entre outubro e dezembro. Ao longo de 6 encontros, realizados em igrejas, postos de saúde e na própria faculdade, mobilizou 52 acadêmicos. No total, 408 pessoas participaram dos exames, todas diabéticas, resultando no diagnóstico de 22 casos de retinopatia diabética, sendo 12 deles considerados graves.
Esses pacientes foram encaminhados ao SUS, evitando quadros de cegueira iminente. “Cada paciente trazia sua história de luta, complicações com a diabetes. O acolhimento foi o que mais me marcou: muitos nunca tinham feito uma consulta oftalmológica na vida pequenos gestos, com um exame simples que a gente fez em segundos, representavam uma esperança para esses pacientes”, relata Carolina.
Esse quadro se reflete em um dos casos mais marcantes do projeto, que envolveu uma paciente com risco iminente de perder completamente a visão devido à RD. “Graças ao diagnóstico precoce realizado pela liga, conseguimos encaminhá-la rapidamente para tratamento. Esse episódio reforçou o quanto a detecção precoce e o acesso ao tratamento certo podem transformar vidas”, afirma.
Para marcar a identidade do projeto, a equipe criou uma logo inspirada em Pequeno Príncipe. O universo representa a tecnologia da Phelcom, o personagem simboliza as comunidades quilombolas e o planeta em risco faz referência retinopatia diabética.
A famosa frase do livro, “o essencial é invisível aos olhos”, foi incorporada para traduzir a missão do projeto: unir ciência e empatia para enxergar além do visível e transformar vidas.
O esforço da equipe foi coroado com o 1º lugar no concurso “Olhos para o Futuro”, cuja premiação foi realizada durante o SIMASP 2025. Como parte da premiação, foi recebido um aparelho Eyer 1, considerado essencial para a realização dos trabalhos. “Se a gente não tivesse a oportunidade de ter o empréstimo desses dois retinógrafos não teria viabilidade para fazer o projeto. Sem os aparelhos a gente não teria diagnosticado precocemente e evitado a cegueira nesses pacientes. Então, a ferramenta foi essencial, um aprendizado prático e inovador para a formação, teve um impacto social e integrou os três eixos do que é uma liga acadêmica, que é o ensino, a pesquisa e a extensão”, afirma Carolina.
Além disso, o projeto foi apresentado durante o Congresso Brasileiro de Oftalmologia, principal congresso da especialidade na América Latina, ocorrido nos dias 27 a 30 de agosto.
Para Carolina, apresentação nesse espaço foi um divisor de águas na sua trajetória: “Foi emocionante representar a equipe e a instituição no maior congresso do Brasil. Um mix de orgulho, responsabilidade e motivação para seguir na carreira. Mais do que um prêmio, foi um aprendizado imenso e um momento de visibilidade científica para a Faculdade Zarns. Além da conquista coletiva, levo também o reconhecimento daminha trajetória pessoal: já somo mais de 50 artigos e capítulos publicados ou aceitos, e 30 trabalhos apresentados em congressos, resultados que reforçam meu compromisso com a pesquisa e com a extensão acadêmica.”
Além da valorização externa, a Zarns também reconheceu o feito conquistado concedendo um Certificado de Mérito Acadêmico aos estudantes, reforçando o compromisso da instituição em apoiar a pesquisa, a extensão e a formação integral dos alunos.
O sucesso do projeto Olhos de Luz reflete a missão pedagógica da Faculdade Zarns, que incentiva seus alunos a integrarem ensino, pesquisa e extensão desde o início da formação. Carolina reforça esse papel: “A Zarns nos ensina a importância da humanização e nos das ferramentas para transformar a teoria em prática. O reconhecimento nacional mostra que a instituição tem estrutura, estudantes engajados e professores comprometidos em levar a medicina para além dos muros da faculdade.”
Na avaliação da futura médica, o principal legado do projeto foi a comprovação de que a prevenção é a forma mais eficaz de transformar realidades em saúde. O trabalho em equipe, a humanização e o vínculo criado com a comunidade reforçaram sua vocação para seguir na oftalmologia, onde pretende ingressar na residência.
“Para mim, o Olhos de Luz deixa como legado a certeza de que ciência, empatia e tecnologia podem caminhar juntas para transformar vidas. Essa experiência me amadureceu como acadêmica e como ser humano”, conclui Carolina.
A história de Carolina e do Olhos de Luz é um exemplo do potencial transformador da união entre conhecimento científico, inovação tecnológica e compromisso social. Mais do que prêmios, o projeto trouxe um impacto real na comunidade local e reforça a missão da Faculdade Zarns de formar médicos preparados para os desafios técnicos e humanos da profissão.
A partir de iniciativas como essa, a instituição consolida seu posto como referência nacional em ensino de excelência, provando que pesquisa e extensão são indissociáveis de uma formação acadêmica sólida e de impacto real na sociedade.