Sabe quando você assiste aquelas propagandas com gente com estilo de vida saudável praticando atividade física ao ar livre e, automaticamente, bate uma vontade de respirar ar fresco e se exercitar também? Pois é, deve ser seu corpo implorando por remédio. Ou melhor, por vacina. Isso porque a prática regular de atividades físicas combate diversas doenças, segundo a Medicina de Estilo de Vida. E, sim, essa é uma especialidade médica.
Criada há aproximadamente 15 anos, a Medicina de Estilo de Vida aposta em intervenções positivas no estilo de vida saudável para prevenir e também tratar doenças. É como se a gente parasse de olhar fixamente à patologia e seus sintomas, para então observar a promoção de hábitos e escolhas mais sustentáveis.
O principal impacto da MEV se dá na redução da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, principalmente as cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer.
A MEV como doutrina surgiu nos Estados Unidos da América. E de acordo com a definição do American College of Lifestyle Medicine, a especialidade preconiza “o uso terapêutico de intervenções de estilo de vida baseadas em evidências para tratar e prevenir doenças relacionadas ao estilo de vida em um cenário clínico”.
Doutor em Medicina pela Universidade de Barcelona, o médico gastroenterologista André Nazar aponta que diversos estudos realizados pela Sociedade Americana de Medicina e Estilo de Vida já correlacionam, numericamente, os componentes que influenciam em longevidade ou na morte mais precoce.
“O que a Medicina de Estilo de Vida propõe é a longevidade do paciente com qualidade de vida, que ele viva muito e com mais saúde. Que ele possa desenvolver bem as suas atividades do dia a dia, sendo produtivo. Esse é o principal mote do que prega essa especialidade médica”, explica Nazar, que é Diretor da Medicina FTC.
Embora ambas as especialidades busquem a redução da mortalidade e a promoção da longevidade a partir de ações preventivas, as duas não são equivalentes. “Enquanto a Medicina de Estilo de Vida foca em questões comportamentais, a Medicina Preventiva é executada, principalmente, através do rastreio de doenças crônicas através de marcadores genéticos, de estudos de prevalência de doença e ensaios populacionais para poder evitar que a doença se desenvolva”, explica o médico André Nazar.
De acordo com o médico e Coordenador do Pilar de Saúde da Família da Medicina FTC, Washigton Luiz Abreu, o profissional que se dedica à Medicina Preventiva trabalha, geralmente, nos serviços vinculados ao poder público ou a algumas instituições que tratam da análise da situação de saúde da população. Esse profissional se dedica à administração em saúde, tanto no âmbito público quanto no privado, além de também poder se dedicar à docência.
“Quando o médico escolhe a especialidade de medicina preventiva, também pode fazer uma formação complementar em epidemiologia. Embora não seja exigência para a atuação, a combinação dessas duas especialidades é muito interessante porque temos, então, um médico com a capacidade de produzir informações em âmbito geral de análise de situação de saúde que permitem, por exemplo, acompanhar o desenvolvimento de uma doença nas comunidades, como a chikungunya ou a covid-19″, explica Washigton Luiz.
Seja com a Medicina de Estilo de Vida ou com a Medicina Preventiva, o importante é que a Medicina do Futuro consiga reduzir a prevalência de enfermidades e os efeitos destas para a população.
E aí você deve estar se perguntando, ainda mais em tempos de coronavírus: dá para prevenir doenças realmente perigosas através de mudanças de hábitos? Bom, vamos lá. Comer frutas e fazer yoga não têm muito poder sobre infecções e outras doenças transmissíveis, mas é importante lembrar que, apesar de assustadoras, doenças transmissíveis não são a principal causa de morte no mundo. Hoje, 90% das mortes no mundo são ocasionadas pelas doenças crônicas não-transmissíveis – e essas, sim, são afugentas por hábitos saudáveis.
“Uma das questões que a gente pode ter atenção é o sobrepeso e a obesidade. Hoje, 60% da população brasileira tem sobrepeso ou é obesa. E a gente sabe que a obesidade ativa uma série de fatores inflamatórios, além de ser fator facilitador para diversos tipos de câncer. Quando a gente fala de prevenção, a gente fala de ter um estilo de vida adequado dentro de todos os parâmetros quantitativos de forma que a gente consiga reduzir os riscos de doença”, explica o médico André Nazar.
Estes fatores vêm sendo estudados constantemente por organizações como a Sociedade Americana de Medicina e Estilo de Vida. De acordo com a instituição que é referência no mundo, as principais determinantes comportamentais para doenças que possam resultar em morte são o fumo, dieta desregrada e o sedentarismo, e os três são reversíveis. Basta que a gente decida reverter 😉
Diversos fatores podem ser levados em consideração para entender o alto número de mortalidade das doenças crônicas não transmissíveis, entre estes estão:
Até aqui, nenhuma novidade. Todo mundo está cansado de saber que fumar, beber, dormir mal e não praticar esportes são uma bomba para o corpo. Pronto, acabou o texto, todo mundo circulando.
A gente queria que fosse assim, viu? Mas a verdade é que, apesar dessas informações serem massivamente divulgadas, muitas pessoas ainda escolhem o sedentarismo e outros péssimos hábitos.
Dados da revista médica The Lancet, trazem uma informação preocupante quanto ao tabagismo no mundo. Uma publicação realizada em maio de 2021 informa que o número de fumantes aumentou para 1,1 bilhão e que 89% destes novos fumantes ficaram dependentes aos 25 anos.
Outro dado importante a ser apontado é que, segundo estatísticas da Organização Mundial da Saúde, um em cada quatro adultos e quatro em cada cinco adolescentes não praticam atividade física suficiente. A OMS afirma que até 5 milhões de mortes poderiam ser evitadas por ano se não fosse o sedentarismo.
Estes dados alarmantes fazem com que a especialidade Medicina e Estilo de Vida seja essencial para o bem-estar social e redução de mortes que podem ser evitadas com simples mudanças de comportamento.
Segundo o professor Washington Luiz, as pessoas precisam se informar mais sobre a própria saúde. “O compartilhamento de informações dos riscos que uma pessoa está submetida por ter um hábito também é uma forma de prevenção. É o que nós chamamos de “promoção da saúde”. A gente precisa orientar a pessoa que pratique exercício físico, que busque fazer uma higiene do sono, ou seja, que durma adequadamente, que tenha o seu momento de lazer como parte da sua necessidade básica, que se preocupe com o tipo de alimentação que consome e os horários. Tudo isso está dentro do contexto da promoção da saúde”, pontua o professor.
O fato é que mudar os hábitos e respeitar o funcionamento do nosso corpo em harmonia com a alimentação, com atividades físicas, com interações interpessoais saudáveis e contatos com a natureza podem ajudar na redução de doenças. Os principais hábitos para a longevidade são:
1 – Dietas que incluem o consumo de frutas e legumes diariamente
2 – Controle de stress
3 – Dormir de 6 a 8 horas por dia
4 – Manter relacionamentos saudáveis
5 – Consumir somente até 120g de álcool por semana e NÃO fumar
6 – Fazer ao menos 150 minutos de exercício por semana
E então, que tal a gente começar com os novos hábitos hoje mesmo?